terça-feira, 20 de outubro de 2009

Viagem sacro-medieval

Deixei de lado o Direito Internacional pra fazer uma viagem lusitana por Castelos e Mosteiros nesse fim de semana. Alugamos dois carros e sábado de manhã saímos rumo a terra do Marquês mais famoso de Portugal. No meu carro estava Yuri no volante, Emanuel de co-piloto, Sarah (paraibana) e Alice (gaúcha) atrás; O outro carro contava com André (o caioca) guiando, Berto (o boliviano) e as piauienses Isabella, Nayd e Moema.
Chegando em Pombal visitamos as ruínas de um Castelo do séc. XII. Bem interessante, achamos, mas era apenas o início. Próxima parada: Mosteiro de Batalha (Convento de Santa Maria da Vitória), construído a mando de D. João I em agradecimento à vitória na Batalha de Aljubarrota contra os castelhanos, no séc. XIV. O Mosteiro demorou quase dois séculos pra ser construído e é simplesmente incrível. É enorme, deve caber a população de Batalha todinha lá dentro (tudo bem que a população da cidade não é muito elevada, mas o lugar é grande mesmo). A arquitetura do Mosteiro é muito bonita, cheia de detalhes...
Depois do almoço, fomos a Alcobaça conhecer mais um Mosteiro. O de Alcobaça começou a ser construído no séc. XII, talvez por isso não seja tão rico em detalhes como o de Batalha. Mas é também belo e abriga os sarcófagos de D. Inês de Castro e D. Pedo I (de Portugal, não o I do Brasil). Lembrei das aulas de literatura, quando a gente leu o relato de Fernão Lopes sobre o episódio da Rainha póstuma.
Chegando a noite fomos para Leiria, onde iríamos dormir. Ninguém tinha pesquisado nada sobre a cidade, achávamos que não tinha nada pra se ver lá. Ledo engano. A cidade era muito bonita, bem arrumadinha e da janela do albergue a gente podia ver um Castelo iluminado muito mais bonito que o de Pombal. Descobrimos também que a cidade ambientou uma das mais famosas obras da literatura portuguesa: "O crime do padre Amaro". Agora uma coisa eu constatei: apesar da cidade ser bem bonita, as pessoas de lá são bem feias. Amélia, a personagem do livro de Eça, devia ser a única mulher bonita da cidade na época pro padre Amaro ter querido algo. O recepcionista da Pousada da Juventude parece muito um outro personagem de literatura/cinema: o Drácula.
No domingo iríamos continuar nossa viagem com destino a Tomar. Antes do pequeno almoço (café-da-manhã), um companheiro de quarto acordou com o barulho que a gente fez quando nos levantávamos. Era um barbudo estilo Osama. Foi tomar banho e quando voltou, na nossa frente, largou a toalha, vestiu uma calça (sem cueca, segundo o Berto) e perguntou de onde a gente era, com um sotaque diferente. Ele disse que era de Coruña, na Espanha, mas que não se considerava espanhol. "Nós temos três grupos terroristas". O visual denunciava. O barbudo era um pintor terrorista separatista. "Me cago em españa". Nesse momento o Berto já tinha saído do quarto, deixando só eu e o Yuri com o terrorista, que vestiu uma camiseta (numa manhã de 9ºC), pegou umas pinturas e deu tchau. Quando ele ia saindo eu caí na besteira de desejar boa sorte. Ele voltou. "Não acredito na 'suerte', não acredito em 'Diós'". E passou a explicar sua concepção de vida. "Me cago en la suerte, me cago en Diós"...
Depois de conhecer o terrorista fomos visitar o Castelo de Leiria, do séc. XII, mas com algumas características também de séculos posteriores. Na torre do Castelo funciona um pequeno museu, com ferramentas de guerra dos bélicos portugueses. Do alto da torre é possível ver o estádio de Leiria. Do alto parece ser feito de lego. Muito legal.
Seguimos para Tomar, onde visitamos o Convento de Cristo, que pertenceu à Ordem dos Cavaleiros Templários. Incrível!!! No núcleo do Mosteiro fica a Charola, a cabeceira da Igreja. É muuuito bonito. Sem noção. O convento é todo rico em detalhes, esculturas, cruz de malta em todo lugar e muitos quartos. Devia morar uma galera ali. O Castelo dos Templários fica ao lado, mas não é permitida a visitação.
Hora do almoço. Todo mundo com fome, devorando batata-frita e ninguém sabia um lugar bom e barato em Tomar pra comer (talvez só se beba lá =P). Achamos um lugar que pareceu bom, no sistema pão + sopa + prato + refrigerante + sobremesa = €6,50. Eu comi um porquinho, mas a maioria quis comer um "peixe", segundo a atendente. Pediram um "choco", sem saber do que se tratava. O "choco" era na verdade um cefalópode. Ou seja, o pessoal ficou mesmo na sopa com pão e batata-frita. Sorte minha ter comido o porco de sempre (aqui praticamente só se come porco).
Depois do almoço fomos para Fátima, que ficava do lado de Tomar. Uma multidão. A Igreja é totalmente diferente de todas as outras antigas que visitamos antes, mas também muito bonita. Estava tendo a Procissão do Santíssimo quando estávamos lá. E muita gente indo de joelhos em direção à Igreja. Não concordo com esse martírio e auto-flagelação, mas não discuto fé. Deram um livreto com a história de Fátima. No livreto, atribuem essa frase à mãe de Jesus: "Tereis muito de sofrer, mas a graça de Deus ajudar-vos-á e Eu dar-vos-ei a força necessária". No ano de 1917, quando ocorreu a aparição, em um período que a Europa passava pela I Grande Guerra, é compreensível que seja atribuída à Santa essa frase, só não acho que isso queira dizer que é sofrendo que se encontra a salvação. Outra frase curiosa que atribuem à Fátima: “a Rússia converter-se-á e haverá Paz; senão, a Rússia espalhará os seus erros pelo mundo, promovendo novas guerras e perseguição à Igreja (…) O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia, que converterá, e será dado ao mundo algum tempo de Paz”. Parace bem político isso, não?
Deixando de lado a polêmica, achei bom estar em Fátima, porque sei que era vontade de minha mãe e para ela rezei uma Ave-Maria, porque sei que isso a faz feliz. Agora espero que depois dessa viagem eu tenha uma inspiração real e divina pra fazer um bom paper de internacional público.

Um comentário:

Berto Igor disse...

eu abro a polemica: folhetinho engraçado ne?