quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Professor? Não, Doutor!

Ontem foi meu primeiro dia de aula na FDUC. A primeira necessidade que eu senti foi o do conhecimento de outra língua. Todos os professores perguntam quais línguas dominamos e dizem que as fontes indicadas nos trabalhos não devem ser somente em português, muito menos só fontes brasileiras.
O professor de Direito Internacional Público parece ser legal. Essa aula foi na sala de Mestrados. Na sala, uma mesa grande na qual o professor senta na ponta, com os alunos ao redor. Encostadas nas paredes algumas estantes com livros das Ordenações e afins.
A aula seguinte foi a do famoso Dr. José Joaquim Gomes Canotilho. Quase um David Gilmour mais magro e mais velho, mas pareceu bem inteiro. Escutá-lo é um pouco mais difícil porque ele fala baixo e com um sotaque mais carregado, mas dá pra entender. A aula é concorridísima, mas só por brasileiros. Uns 30, contando os ouvintes, na sala, que era maior, um anfiteatro. Ele foi logo querendo mostrar que a gente tá aqui pra estudar. E disse que devia ter uma relação de respeito entre os alunos com ele, que não deve ser chamado de professor. Professor só existem três segundo Canotilho: o professor do primário, o mais importante, o professor da faculdade de medicina e o professor da faculdade de direito de Lisboa. Ele deve ser chamado de Doutor, porque assim são chamados os professores da Faculdade de Direito de Coimbra. Mas, ele foi até simpático e disse que no fim do ano vai convidar os alunos sábios e competentes pra jantar na casa dele.
Hoje teve aula da Dra. Maria Benetida Urbano. Ela é adota um visual Vampira do X-Men, com uma mecha branca no cabelo e o restante preto. Vou perguntar depois se ela torce pro Corinthians. Ela disse logo que a gente tem que se virar com fontes de autores de outros países. Saí da aula pra me matricular num curso de italiano na Faculdade de Letras... Quase não me matriculo. Segundas e quartas a noite italianando... Será que eu aguento?

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Blowin' In The Wind

Ontem eu acordei com uma missão: comprar meu notebook. Depois de alguns dias andando por toda a cidade, eu acabei decidindo ir para o shopping Forum, pesquisar e sair de lá com o notebook nas mãos definitivamente. O trajeto de ida é tranquilo. Só descida. Desce até a praça da República, segue em frente na Av. Sá da Bandeira, passa pelo Mercado, pela Câmara vai seguindo pelas ruas do centro comercial em direção ao Largo da Portagem. Essa parte da cidade lembra um pouco o centrão de São Paulo, tirando umas ruelas da época romana que são bem peculiares. Chegando ao Largo da Portagem estamos à beira do Rio Mondego, uma bela paisagem. Lá pegamos o ônibus (autocarro) que nos leva ao outro lado da cidade, até o shopping Forum.
Depois de horas de pesquisa de preços e comparações de marcas, placas, processadores e coisas do gênero saí do Forum com meu note. A volta seria mais complicada. Além de carregar uma mochila nas costas e uma caixa com o notebook nas mãos (não cabia a caixa na mochila), o caminho inverso é de subida. Peguei o mesmo autocarro 38, até Largo da Portagem pra iniciar minha escalada.
Quando eu passava pela Rua Visc. da Luz vi um senhor tocando um violão e uma gaita ao mesmo tempo. Logo reconheci os acordes de Blowin' In The Wind. Continuei andando lembrando da letra de Bob Dylan:
"How many roads must a man walk down
Before you call him a man?
Yes, 'n' how many seas must a white dove sail
Before she sleeps in the sand?
Yes, 'n' how many times must the cannon balls fly~
Before they're forever banned?"
...
Bob já sabia: "The answer, my friend, is blowin' in the wind,The answer is blowin' in the wind."
Aquilo me tocou. Música sempre emociona.
Continuei meu caminho, com a primeira missão cumprida, mas com uma questão: como seria o dia seguinte de início das aulas na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Ou os próximos dias no velho continente. A resposta, meu amigo..."is blowin' in the wind."

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

12:59h

Cheguei em casa (talvez depois eu conte como foi a epopéia de encontrar um lar em Coimbra) e descobri que a programação do sábado era ir pra Figueira da Foz, praia mais próxima de Coimbra. Ninguém sabia na verdade qual era a melhor forma de se ir pra lá, pensou-se em alugar carro, em ir de ônibus, até se descobrir que a passagem de trem era 1,99. No grupo estavam os seis iniciais mais Sarah e Thaiz, duas paraibanas que vão morar no mesmo lugar que a Dani e a Isabella. Quando estávamos a comprar nossos bilhetes para o trem, Sarah perguntou pro Emanuel que horas sairia o trem, o que ele respondeu rapidamente: 13h! Ouvindo isso, o atendente da estação se alterou, colocou o rosto para fora da janelinha da bilheteria e falou bem alto: É 12:59!!!!!!
Depois do elucidante esclarecimento fomos esperar pelo pontual trem.
Figueira da Foz tem uma praia meio sem graça pra nordestinos. Areial enorme sem crepes, sem peixinho, sem uma cervejinha ou um coco...
Mas a cidade é bem linda. Prédios antigos e modernos muito bonitos. Depois da frustração da praia fomos conhecer o Museu. Muito legal! Tava tendo uma homenagem no auditório do lado pra alguma personalidade. Teve um coral de portugueses e portuguesas caracterizados. A última música foi um brinde. O refrão era "BEBER, BEBER, BEBEEEER"... Bem convidativo.
Depois a ideia era ir pro Casino. O problema é que não era permitida a entrada de bermuda e chinelo lá. Nelso...
Voltamos pra Coimbra...

Ignis in Cauda II

As pessoas se formam, passam no teste da OAB, decidem fazer um mestrado e seguem suas vidas, porém os personagens dos enredos mais pitorescos são os mesmos. Cinco membros da turma Ignis boni Iuris foram para Coimbra fazer mestrado (Arthur, Berto Igor, Daniela, Emanuel e Isabella) com a presença ilustre no grupo de Yuri, membro da Ordem do Pentagrama do Poder, da qual fazem parte Arthur e Berto.
Eis que chega ao Aeroporto Internacional de Fortakeza-CE para o embarque, com a (im)pontualidade habitual, Emanuel acompanhado de toda a família. Devia ter umas 5 gerações da família Severino se despedindo do febril gordinho. Isso mesmo, ele estava com febre de 39 graus quando foi pegar o voo. Tranquilo em épocas de gripe suína. Antes de entrar na sala de embarque sua avó pegou em minha mão e disse: "Cuida dele!" Ela devia estar adivinhando...
Imigração em Lisboa, carimbo de passaportes e novo embarque. Conexão pra Porto. O porquê? Não sei... Chegando em Porto pegamos as mil malas. Agora entram em ação os estivadores Berto e Yuri a levar as malas das garotas, que apesar de serem magrinhas têm umas malas bem densas. Do Aeroporto do Porto pegamos metrô (de graça, ufa) até a estação de Campanhã, de lá fomos atrás de passagens de trem (alfa pendular) para Coimbra. Tudo carregando mil malas. Ocorre que para pegar o trem com destino a Coimbra teríamos que atravessar para o outro lado da estação por uma passagem subterrânea. A hora da partida do trem estava próxima. Professor Berto estava a esperar o elevador, quando o Emanuel diz: vamos de escada rolante, é mais rápido. Fui na frente, porque eu queria ver se ligava pro Brasil ainda antes de partir no trem. Desci com minha mala. O Emanuel vinha logo atrás com duas malas proporcionais a seu tamanho, no entanto, ele, cordialmente, deu passagem para três senhoras, uma na casa dos 80 anos, outra na casa dos 70 anos e uma que devia ter uns 50 anos, que alegremente comentavam: "Hoje vamos comer um bacalhau em Braga!!!". Quando cheguei ao andar inferior ouvi um barulho, a cena era a de uma mala gigante descendo a escada rolante como se fosse um escorrega bunda e atingindo as três velhinhas como se fossem pinos de boliche. Strike!!! E eu a assistir tudo ali na minha frente. Saldo: uma mala espatifada na escada rolante e três senhoras que eu ajudava a se levantar juntamente com o segurança da estação, que a princípio parecia querer prender todo mundo ali por tentativa de homicídio a velhinhas apreciadoras de bacalhau. Segundos depois descia o nunca antes tão alvo e assustado Emanuel a pedir desculpas. Depois de socorrer as velhinhas e delas chingarem de todo jeito em um português não entendível por brasileiros, porém de forma elegante, afinal eram senhoras, tinhamos que resolver como levar a espatifada mala do Emanuel e seus pertences que se espalharam. O restante do grupo, que tinha ficado esperando o elevador, já estava se acomodando no trem alfa pendular. Decidimos levar de qualquer jeito. O febril Emanuel foi carregando nos braços como um bebê (bem pesadinho) sua mala quebrada, enquanto eu carregarra a minha, a outra mala dele e um saco da "Vila Romana" com as coisas que o Emanuel nao tinha conseguido enfiar de volta na mala. E lá fomos nós correndo pra não perder o trem bala... Não perdemos.
Quando chegamos em Coimbra foi anunciado na rádio que a mulher de J. J. Canotinho, bem como sua cunhada e sua filha haviam sido atropeladas por uma mala voadora em Porto, mas que já passavam bem...
Vou reativar esse blog nunca antes realmente ativo. Não tenho intenção de fazer dele um diário, mas como eu passei uma semana sem maiores contatos por estar sem computador vou me aproveitar dele pra contar algumas coisas que se passaram por aqui...
Cruzamos o Atlântico, num caminho inverso ao dos portuguêses, deixando família, namorada, amigos, trabalho e tudo mais pelo Brasil.
Fernando Pessoa não imaginaria isso quando assim escreveu:

"Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma nao é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu."

Dizem que a última frase de Pessoa foi: "I know not what tomorrow will bring... "
Pessoa, vou te contar: alguns anos após, um grupo de piauieneses, numa aeronave portuguesa, vão ao velho continente, não por mar, mas pelos ares. O Atlântico os espelhou por pouco menos de sete horas entre algumas estrelas, que desapareciam aos poucos no caminho leste, enquanto a noite passava...
Quando chegam, o sistema de som da aeronave toca uma música de Caetano Veloso numa versão de uma cantora portuguesa... E então Pessoa, o que acha disso tudo?