domingo, 30 de maio de 2010

Admirável ciclo...


Depois de dormir tarde preparando a apresentação e acordar cedíssimo para viajar e chegar pontualmente no horário combinado para não desapontar o "germânico" doutor, estávamos todos reunidos na quinta de Gomes Canotilho, em sua terra natal - Pinhel -, junto a sua família, suas videiras, parreiras, em sua casa decorada por quadros brasileiros e de um filho de seu primo, cujo nome era o mesmo do Constitucionalista, mas que ele nunca chegou a conhecer.
O encontro foi marcado por várias despedidas. Foi minha última "aula" do curso de mestrado do último curso de mestrado do Dr. Canotilho na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.
E nós trabalhamos. Por três horas mais ou menos discutimos três temas que três grupos apresentaram. Eu fui o último a falar. Meu grupo tratou da execução dos julgados da Corte Europeia dos Direitos do Homem. O doutor escolheu fechar o curso de mestrado discutindo questões processuais, o tema que o abriu. E escolheu encerrar essa fase de sua vida no local onde ela iniciou. Como num ciclo, como lembrou Emanuel, o personagem do meu primeiro post do blog em terras lusas.

Após o trabalho, o almoço. E que almoço! Um bacalhau maravilhoso. E aí descobrimos também o vinho de Pinhel. A pequena cidade chegou a ser considerada a 3ª maior região produtora de vinhos de Portugal, contou o doutor. Então, veio a primeira surpresa. O doutor nos levou para conhecer a Adega Cooperativa de Pinhel. Ele é o presidente da Assembleia da Cooperativa, que reúne mais de mil produtores. E presenteou cada um com uma garrafa de vinho que leva o nome de J. J. Gomes Canotilho e tem no rótulo a reprodução da pintura de seu homônimo que está pendurada na parede de sua casa.
Depois do vinho, a cidade. Percorremos as ruelas de Pinhel com um guia que ao tempo que contava a história de sua terra natal, contava a sua própria história. Peraltices de um Canotilho criança foram reveladas durante o passeio.

Retornamos a sua casa e então se deu a segunda surpresa. Ganhamos a prenda "Admirar os Outros". "Um livro sem o ser" disse Ana Maria, mulher do doutor no aviso aos leitores. O livro nem sequer está à venda nas livrarias, só existem 500 exemplares dele. Se trata de "uma iniciativa familiar, com a colaboração e cumplicidade de alguns amigos, que permitiu a produção dessa obra", que reúne textos dispersos e até perdidos de Canotilho, que darão "a conhecer aos leitores uma faceta do autor que é, em meu entender [de Ana, a mulher], a sua grande capacidade de admirar os outros".
Aprender a admirar os outros, uma lição que o doutor deixou para ensinar na última aula, fora da Academia. Admirável escritor, professor, constitucionalista, tantas coisas que esse senhor de sessenta e tantos anos já foi e é, mostrou ainda que também é uma admirável pessoa.

Depois desse momento ímpar, ficou uma saudade antecipada de tudo isso aqui. Estou perto de encerrar um ciclo e vou retornar à minha terra também. Como sangue vou retornar ao coração depois dessa jornada. Mas é bem verdade que no meu coração já existe um Brasil bem maior e até um pouco de Portugal.

2 comentários:

Daniela Veloso disse...

Admirável mestre, admirável curso, admiráveis momentos, admiráveis pessoas, admirável post. :)

Ana Luiza disse...

Poxa, que coisa boa! Tu é muito chik, todo íntimo do canotas... Só quer ser =P Bjo